Maravilhoso Jardim da Morte

Victor Malyushev

A morte convida-me delicada e insistentemente. Ela mostra-me um cenário onde será a sua recepção — e que aprazível! Ó sim, é. Ela me chama para um lugar onde será do jeito que eu quero, de um jeito que parece me apetecer. O lugar é mais leve do que este mundo. E a sua voz tem cada vez mais se aproximado dos meus ouvidos a cada dia. Falta apenas eu vê-la, a morte. É como se ela estivesse a poucos passos de mim, ou, até mesmo, à minha frente, apenas aguardando-me e estendendo-me a sua mão suave, fina, alva; translúcida ela é.

A morte que me chama não é áspera. Ela é paciente, tranquila e quase sem dor — é o que ela promete. Entretanto, no fundo, eu sei que passarei por um grande incômodo se, por acaso, eu aceitar o seu chamado. O prazer virá depois (depois do agonizar), quando eu estiver onde ela está, onde ela mostra-me ser o verdadeiro paraíso.

Correremos juntas num jardim frutífero, esverdeado,
farto de flores, borboletas e cantos de pássaros aos nossos ouvidos,
enquanto sorriremos felizes, enfim, de todo o sofrimento do mundo anterior.
O sorriso da morte é paciente e amável.
Seus olhos se fecham ao sorrir dos seus lábios.

Uma canção já podemos ouvir em todo o jardim da nova vida; vida essa que seria a tal morte para mim. Mas a morte mais vivida e real. Essa canção se repete em nossos ouvidos e nunca tem seu fim. Ela simplesmente começa e, ao terminar, se inicia mais uma vez, e novamente, e nunca se finda. Então, as nossas mãos unem-se — a minha mão e a mão da morte, e pulamos juntas, arrodeando todo o jardim, sorrindo, pulando e felizes uma com a outra, como se ali fosse um casamento, união, aliança.

Ouve? Escute o som das nossas gargalhadas. O som da gargalhada dela, e da minha, tão felizes. O vislumbre é real.

— Venha tão logo para este lado, querida aprendiz. — Ouço.

Será que é lá que estão todas as pessoas que eu amo e se foram? É lá que estão todos aqueles que ouviram o chamado da morte e o atenderam, não é mesmo? Eu sei que é...

O convite continua sendo feito. Ainda que eu nunca o aceite, ela sempre vai estender a sua mão doce e suavemente funesta para mim. Ainda que a minha resposta seja 'não' e que eu esteja apenas redigindo um texto simples e doloroso, ela, ela vai estar sempre esperando por mim, mostrando-me tudo em visão, do que eu poderei ter — enfim, o paraíso, e não deste mundo mais, o padecer.

O convite da morte para o maravilhoso jardim que ela oferece sempre vai existir. Ela sempre vai estar lá... e eu vou escutar a sua voz para sempre, insistente e eternamente dentro de mim.

Texto publicado na 4ª edição de publicações do Castelo Drácula. Datado de abril de 2024. → Ler edição completa

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Glícia Nathállia Campos

Nascida em um outono, na capital da Bahia, cresci em uma família que me proporcionou muito incentivo ao estudo e à cultura de qualidade. É por isso que sou uma pessoa que ama a leitura, o conhecimento, a escrita e outras áreas artísticas. Minha paixão pela arte faz aprofundar-me nela. Enfim, sou alguém com uma sensibilidade aflorada; aprendi a lidar com situações com muita humanidade, senso e responsabilidade. Sou livre de convenções e de preconceitos.

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