Prólogo: Desperta

Imagem criada por Sara Melissa de Azevedo para o Castelo Drácula, com Midjourney
Quão amarga é a solidão do silêncio absoluto, o abismo que sangra em palavras mortas. Meus olhos fitam meu retorno, e de repente vejo o nascer das trevas em meu peito, a poesia da escuridão ao lado do horizonte noturno. O espírito da finitude não beija meus lábios, de alguma forma eu sei disso. Despertei pela fresta de luz de um luar brando e vívido. Lembrei-me dos caminhos que fiz pelos sonhos mais frígidos e sei que atravessei cordilheiras distantes e precipícios símeis aos pélagos úmidos e aos arvoredos orvalhados.
A poeira ao redor sobre os lençóis de cetim escarlate, o espelho embaçado, as teias tecidas com esmero pelas aracnídeas cuja natureza é fascinante e silente. Estou acordada. O mundo humano ainda é o mesmo? A lua ainda reside no firmamento, embora as estrelas aparentem estar muito mais distantes do que outrora. Apoio-me no balaústre da varanda, quão alta esta torre se faz… posso ver o abismo e todos os pinheiros negros ao redor, junto à parte do castelo que está tomado por neve e galhos secos, sinto — enquanto estremeço — a brisa internamente densa em sua gélida composição. É inverno. Pela palidez que cai a neve em lentidão, não tenho dúvidas que estou no ápice da estação mais frígida. Quantos anos se passaram? Por que não envelheci?
Não ouço nada além do sibilar mórbido da aragem estonteante, e dos corvos a crocitarem tristes vez ou outra. Tenho pouquíssimas memórias, sinto-me como n’um nascimento prematuro, ainda entranhada em reminiscências do ventre em suas sombras, calidez e sons imprecisos, nada mais. Ainda não me fiz destrancar este umbral que me separa dos recônditos obscuros d’este lugar, pois temo — eis a razão desoladora. Do fogo que acendi na lareira umedecida, emergiu-me uma imagem efêmera de olhos escarlate e uma intensa dor em minh’alma, então senti minhas pálpebras estafantes, adormeci serena e lôbrega nos braços de alguém que não me lembro o semblante. Agora escrevo, porque posso não sentir a vida ebulir em minhas veias, mas sinto as mais fúnebres emoções que a ela pertencem.
Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e criadora de Ars OAN mor — para apreciadores de sua literatura intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. Ars OAN mor é o pertencente recôndito de Sahra e, nele, a autora se permite inebriar-se em sua própria, e única, literatura.
Leia mais desta autora:
Símil a um olho, o obscuro pingente reluzia. A lótus negra decerto significava meu ainda existente vínculo com…
Enquanto no convés observava | Revolto o mar estranho parecia, | A negra tempestade se agravava, | Um som horripilante s’espargia…
Eu não fui, desde a tenra e pura infância | Tal como eram todos — nem ganância | Tive símil — sequer vi como viam — | E as paixões que estimei não podiam…
Nas grotas d’uma lôbrega passagem, | A balça gris e sôfrega, que à vista, | Ornava em medo fúnebre a viagem | Aos versos d’um plangente sonurista;…
Edgar Allan Poe não foi apenas o Mestre da Literatura Gótica…
De modo sensível e vago | Protejo em meu peito, dorido, | Um lírio tão pulcro e um lago | Com águas de morte, contido, | Ao lado de incerto amargor…
O céu era como a De Sterrennacht, embora em tons azúleos, opacos e cinéreos — sombrio além…
“Escuta-me”, disse o Demônio, pousando sua mão sobre minha cabeça. “A terra de que te falo é uma terra lúgubre na Líbia, às margens do rio Zaire. E ali, não há quietude…
A cristalina água corrente abluíra as provas de que aquilo não se tratou, tão somente, de uma…
Nas auroras d’outros tempos santos | Ó, meu fado! Amei, amei por tantos | Tão sombrio recôndito n’este mundo; | Era belo e habitava em solidão,…
No frígido oceano, um coração | Umbroso e azúleo, em trevas olvidado; | Safira de saudade e vastidão, | Cristais salinos, mágoas… insondado…
Alguns dias e noites bastante invernais se seguiram até que fui levada à Mansão Negra e, às vinte horas, eu a vi…
Alguns dias e noites bastante invernais se seguiram até que fui levada à Mansão Negra e, às vinte horas, eu a vi…
O perfume dos lihrios de ébano serena meu coração desde então; por muito quando as visões daqueles…
Agachada sob a sombra crepuscular, olhei e vi um ancião cujos olhos exaustos caiavam seu espírito perverso; o que, se por mim fosse evidente…
O Sol, um ponto pálido no céu | Azúleo-gris, opaco e tão brumoso; | Pinheiros, névoa negra como um véu… | N’orvalho d’um dilúculo moroso;…
Cultivada no seu próprio solo, a maldade humana é uma brincadeira de mau-gosto do acaso; uma construção perversa do sistema; uma condição…
Uma monodia litúrgica bizarra atravessara nossas almas, tão mais que os tímpanos. A morte parecia habitar o derredor, as velas tremeluziam…
Saudosa alma silente e melancólica, | Efêmeros ocasos: meu langor… | No onírico resido e quão simbólica | A vida é n’esta gênese do alvor…
A densa floresta acastanhada, honrava um outono etéreo e silente. Uma atmosfera enevoada, do mesmo tom borgonha…
38 minutos de leitura
Antemanhã de lua cheia, lôbrega em névoa rubra. Outono e decadência, a morte encíclica brinda, hoje ou amanhã, a todos os que residem no…
D’esta vez, trago um pouco do universo de nossa Escrivaninha para você. Escreva!
Lendas urbanas são narrativas misteriosas, por vezes macabras, que circulam entre as pessoas…
Adentro no mor lôbrego Castelo | Tal corpo em algor mortis, tão mordaz… | Soturno a mim murmura sobre um elo | Dest’alma condenada que me faz;…
O que esperamos da existência efêmera que pertence ao nosso ser? Há muitos sentidos para serem criados e sustentados pelas idealizações e crenças que…
Um abrupto sopro de vida e meus olhos foram circundados pelo lume de um dia nublado. Eu dormia? Ao derredor, um cemitério árido e lúgubre descansava…
"Torna-te aquilo que és" abrange o aceitar sua condição única, mas, no mesmo nível, traz a significação do eterno tornar-se, pois nunca, de fato, poderemos dizer que somos…
Dia 25 do ano 349 — em Phebrian | Senlen Plena e Pherr Crescente. Recebi uma missiva sombria sem remetente, mas julgo ser o mesmo qual…
Parabéns por adquirir sua primeira Vërmanen!…

Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e sua literatura é intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. A sua arte é o seu pertencente recôndito e, nele, a autora se permite inebriar-se em sua própria, e única, literatura.
Escrevo esta carta porque devo explicações aos meus familiares e queridos amigos, já que sumi há anos e, decerto, sou dada como morta…