Imagem criada e editada por Sara Melissa de Azevedo para o Castelo Drácula

Perdida na confusão dos meus pensamentos, me encontro prostrada nas ruínas da minha própria existência. Em um receptáculo onde os raios de sol não conseguem penetrar totalmente, minha alma rasteja pelos corredores sombrios da minha carne, e meu ser se assemelha mais a uma casa mal-assombrada do que a um templo resplandecente, o qual tanto almejei ser. Não enxergo meu corpo como um templo. Vejo-o como uma morada macabra pela qual minha alma está condenada a vagar. Sombras dançam nos cantos e os ecos do passado ressoam nos longos corredores escuros. Minhas lembranças são os fantasmas que perambulam por esses corredores, olhando através dos meus olhos, como janelas embaçadas. Cada cicatriz, cada ruga, cada tatuagem é uma marca deixada pelo tempo, uma história gravada na pele com tinta permanente. 

Meu cérebro, um sótão empoeirado e repleto de caixas seladas, guarda memórias empalidecidas. É lá que as lembranças se entrelaçam em teias de nostalgia. Os fatos, as certezas, são como morcegos que ali encontraram refúgio, suspensos nas vigas, usando meu crânio como abrigo. Às vezes, seus guinchos ressoam, me lembrando de que nem todas as verdades são agradáveis. No coração, o mais profundo dos porões, reside a esperança, um fio tênue que se agita nas sombras das minhas entranhas. É lá que os sentimentos e os afetos caminham lentamente como espectros famintos, produzindo um som oco que ecoa em meu peito. Cada batida é um eco das emoções que habitam esse subterrâneo, um sussurro de desejos não realizados e amores perdidos. 

Eu sonhava em ver o meu corpo como um templo bem cuidado, erguido com a pureza de uma catedral luminosa. Porém, a cada amanhecer, venho me acostumando com a escuridão que permeia essas paredes internas. As sombras, os fantasmas, os morcegos e os sussurros ocos têm se tornado minhas constantes companhias. Ainda assim, na penumbra da minha existência, minha alma teimosamente sempre acende uma vela, na esperança de enxergar cada canto escuro e tornar essa casa um lar. Ansiando pelo dia em que a luz irá penetrar pelas rachaduras dessas paredes, dissipando o mal que deixei se apossar de mim. 

Texto publicado na Edição 10 - Aborom, do Castelo Drácula. Datado de outubro de 2024. → Ler edição completa

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