O prazer do esquecimento
“Um vício pode matar um homem.
Mas uma mulher… pode matar a alma.”
— Autor Desconhecido
Eu não queria amor. Esse sentimento eu já havia trancado no fundo da alma, enterrado em um canto escuro de mim de onde nunca mais deixaria escapar.
Não...
O que eu queria era um toque que afogasse minha dor, algo que gritasse mais alto do que as vozes que ecoavam dentro de mim. Então eu a encontrei.
Não dissemos nossos nomes. Isso tornaria tudo mais íntimo, mais romântico — e não era isso que eu buscava. Eu queria apenas a chama da paixão, o fogo intenso de dois corpos colidindo. Queria ouvir seus gritos de prazer se rendendo a mim, ao menos naquela noite em que eu pudesse esquecer quem sou ou de onde vim.
O quarto estava escuro, não podíamos nos olhar. Mas ela não perguntou nada. Apenas chegou — como um fantasma. Deslumbrante como a luz da lua, sedutora demais para que qualquer medo se aproximasse. Me tocou como quem entendesse meus segredos. E, por um instante, meu corpo esqueceu o nome que doía em minha mente. Eu queria apenas aquele momento. Queria mais. Porque ali, nada doía. Nada me machucava. Eu estava livre do passado, esquecido do futuro. Vivendo apenas o presente.
E era bom.
Sua pele roçava a minha como se escrevesse versos sobre o vazio que eu carregava. Por mais que eu tentasse resistir, estava entregue ao seu toque, ao seu ritmo. Seu corpo dançava com o meu como se nossas almas estivessem em sincronia, presas em um feitiço que adormecia nossas dores. Cada suspiro que escapava de seus lábios era um sussurro contra os gritos dentro de mim. E eu ouvia. Ecoava. Ouvi cada gemido como um canto depravado, uma prece profana pedindo que aquele instante durasse mais. Que o mundo lá fora não nos encontrasse. Que nossas memórias jamais voltassem.
Ela sabia como tocar meu corpo.
Suas mãos gentis, mas torturantes, cravavam minha pele como se quisessem marcar aquele momento em mim. Ela desenhava o caminho de suas unhas sobre meu peito como se deixasse cicatrizes invisíveis. E, por um segundo, eu acreditei. Talvez fosse possível... não sentir mais. Seu quadril encontrou o meu como se fosse destino. Selvagem e terno. Brutal e sereno. E naquele ato, não havia amor. Havia libertação. Nossos corpos não buscavam conexão. Buscavam fuga. E eu fugi. Corri de mim mesmo até não restar nada além de pele e desejo. Nada além daquele momento eterno em que ela se arqueava sobre mim, me olhando como quem entende tudo... mas escolhe não perguntar nada.
Eu a segurei forte, como se segurasse meu último suspiro antes de mergulhar de volta no abismo em que estava preso.
E, quando gozei, não foi de prazer. Foi de alívio.
Mas no fim, enquanto ela colocava novamente seu vestido preto, minha alma gritou para que ela ficasse. Que pudesse impedir que minhas dores voltassem. Mas, quando a porta bateu depois que ela saiu, meu coração se lembrou — do nome que eu queria esquecer. Ela não disse nada. Nem olhou para trás. Apenas fechou a porta com o mesmo silêncio com que chegou. E tudo ficou escuro outra vez. Mas dessa vez... não era reconfortante.
O lençol amarrotado, ainda quente do seu corpo, parecia me julgar. E eu me encolhi ali, como um homem que buscou fuga, mas encontrou mais destruição. Meus dedos deslizaram até o lugar onde ela me tocou com mais ternura — como se ali estivesse a chave para a prisão que eu mesmo criei. Mas era só pele. Fria. Sozinha.
Suspirei. E ouvi, no fundo da alma, o nome. Aquele nome. O nome dela. Não a mulher de agora. A outra. A que fez tudo isso começar. A que me ensinou que o amor pode ser uma maldição com cheiro de jasmim. A que sussurrou promessas que se quebraram e hoje gritam dentro de mim.
Fechei os olhos e me odiei um pouco. Por ainda lembrar. Por ainda sentir. Mas também sorri. Um sorriso amargo, torto. Porque, por mais fugaz que fosse... naquela noite, eu fui livre.
E talvez eu tenha encontrado um jeito de fugir da minha realidade. Um prazer que eu tornaria um vício. Algo que iria destruir ainda mais minha alma, que já está fragmentada.
Um vício que vai me matar.
Caellum Noctis
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