Mea culpa
Não há mais que fazer, não vejo escopo,
Me resta ser à pena obediente,
À punição por ter, sem precedentes,
Visão daquele tipo, valioso…
Depois, sem precisar vê-la de novo,
Passando a ser por ela fortemente
Levado a ver em sonho e nas paredes
Seu rosto, aquele olhar insidioso…
Confesso-me juíz da própria culpa
A fim de amenizar a dura e crua
Certeza da prisão em que me encontro,
Sentença que me coube por decreto:
Ficar sem liberdade, num perpétuo
Caminho pelo círculo de um olho…
Transpus o limiar da realidade | (Lugar em que julguei haver raízes) | Pra navegar a fundo em outros mares, | Riscar o trivial da superfície…
Pobre donzela, presa nessa torre… | Refém de um soberano sufocante… | Alheio ao seu destino fulgurante, | Maior que o de sofrer a noite insone…
Sentidas notas: plange o vocalista… | Transforma a dor em coro; a sua banda | Fornece-lhe o amparo, alternativa | Saída além do choro sobre a cama…
Convicto, sei que há uma boneca | De aspecto japonês sobre o armário… | Recordo-me ter visto em outras épocas; | Suspeito ainda agora, enquanto falo,…
o abrir meus olhos, já estava amarrado… Punho e canelas; uma cinta atravessada no colo… tiras que me prendiam naquilo que parecia uma cadeira médica, de confortável estofado e inclinação…
O gosto vai de cada um: servida, | A forma é sempre a mesma sobre os pratos | — Difere-se o recorte, se por cima | O tronco destrinchado está dos braços...
Não há mais que fazer, não vejo escopo, | Me resta ser à pena obediente, | À punição por ter, sem precedentes, | Visão daquele tipo, valioso…
Visitante das mais inoportunas… | Te convido a entrar — mas não se abanque, | Nem pegue em suas mãos estas figuras | Que poucas são e deixo em minha estante…
Resumo das notícias pelo mundo: | Cidades transformadas em desertos. | Com essa informação (distante) eu durmo | Na paz que tenho e vivo sob um teto…
Mamãe pediu pra mim que a esperasse | Enquanto ia ao mercado… Estou sozinho. | Lá fora está bem frio, é muito tarde, | Cai neve… — e só o gato aqui comigo…
Beirando a hora 1 da madrugada, | Das mais humildes a cidadezinha| Se viu com suas luzes apagadas: | Sem rádio, celular, sem energia…
Visão do mar revolto, suas ondas | Gigantes, traiçoeiras… nada perto | Da verdadeira face que se encontra | Na profundeza a mais de 10.000 metros…
Dez dias de total isolamento, | E o cidadão não teve paciência; | Contra todas as dicas da ciência | Resolveu sair de seu apartamento…
Plantei-a logo cedo (era semente): | Promessa de um futuro ambicionado. | Cuidei fazer valer o fio crescente — | Em meus afetos já criando espaço…
Natureza minaz, impunemente | Fazendo as suas vítimas, tão crua | Na forma de tratá-las — a postura | Só vista em tiranias, inclementes…
Recanto de Literatura Gótica