Imagem criada e editada por Sara Melissa de Azevedo para o Castelo Drácula

“Eu é o outro”
Arthur Rimbaud

A cara não é feia nem bonita sem saber o que é feio e belo
Como Crusoé na ilha tentando fazer-se a si
Um personagem fictício como os outros
Pois em si somente o vazio
Uma bola como alguém para ser ele mesmo
Uma comparação, um padrão, brigas, conversas,
                                                                [perdão] 

O que seria do mágico sem o trágico?
Contente de que?
Com raiva de que?
Esbelto?
Gordo?
Imundo?  

Com tudo que há de liberdade
Sem empurrões
Sem ideias
Necessidades
Com a fauna e a flora a te observar
Mas sem contigo participar
Nem dizer se é ou foi
O que? Algo? Alguma coisa? 

A morte não tem sentido sem a vida
Destilar a sua consumação até esgotar
Agravar os erros e perdões
O amor de quem para quem 

Como se poeta deixasse de ser
Morrendo sozinho na beira da praia
Como os ultrarromânticos de tuberculose no leito
Um Crusoé cansado de não sentir seu Eu 

As estrelas com seu brilho próprio
Sobre um deserto despovoado 

Meus cabelos não são somente meus cabelos
Eles são diferentes
Meus olhos não são somente meus olhos
Eles estão em mim e não no outro
Têm formas e introspecção singulares
                                        [das de quem?]
Numa ilha, (no inóspito)  [ninguém!]
Um olho, dois olhos, um cabelo
Só(s), somente 

o eu é o outro e não há quem arranque isso de mim, de nós, de todo mundo
a não ser nós mesmos virando ilhas e desertos.

Texto publicado na Edição 13 da Revista Castelo Drácula. Datado de fevereiro de 2025. → Ler edição completa

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