15ª Edição - Aesttera - Revista Castelo Drácula
Chegamos ao Outono, estação que não apenas nos inspira nesta 15ª Edição, mas também nos convida a refletir sobre ciclos, despedidas e renascimentos. E, em meio às folhas douradas que caem e ao frio que se anuncia, trazemos uma reinterpretação da Páscoa, resgatando suas raízes pagãs e transfigurando-a em uma celebração única: Aesttera.
Diferente da visão tradicional, Aesttera não se restringe à renovação primaveril, mas abraça o paradoxo da fertilidade e da esperança em meio à aridez e ao esfriar do tempo. Neste rito, os homens e mulheres se vestem em trajes de gala e ocultam seus rostos sob máscaras de Láparos, coelhos de olhos negros e orelhas altivas, símbolos de vitalidade e abundância. Assim tem início a Celebração dos Láparos, uma festividade vibrante destinada a afastar os espíritos estéreis que rondam a terra sedenta do Outono.
O banquete se inicia sob a luz tênue de candeias, num entardecer carmim-cinéreo, e a bebida mais aguardada é o vinho da Maçã Sangrenta, extraído da única espécie frutífera desse período. Seu sabor é doce, levemente ácido, intenso e carregado do aroma das folhas secas e da madeira orvalhada. Entre danças e brindes, o povo se perde na embriaguez ritualística de Aesttera.
Mas não é apenas a festividade dos adultos que marca esse período. As crianças, com cestos de palha nas mãos, percorrem os campos à procura das delicadas flores Ovaeren, que começam a desabrochar nessa época. A crença diz que colhê-las antes que suas pétalas se abram por completo é um presságio de sorte, pois delas se extrai uma calda marfim-pálida e mélea; geralmente é misturada a amêndoas de cacau fermentadas e secas ao sol — um doce ancestral que carrega a promessa de dias prósperos.
Para muitos, Aesttera é um tempo de conceber novas vidas, de plantar sementes de amores verdadeiros. Para outros, é o momento de recomeçar, de moldar novos sentidos para a existência. Pois, nesta tradição, Outono não é apenas uma preparação sombria para o rigor do inverno, mas também um ato de resistência: um rito que desafia a decadência iminente e invoca a renovação em meio à perda.
Há menos luz, as noites se alongam, e o vento se ergue, lamuriando despedidas. As folhas caem como memórias desprendidas dos galhos do passado. E enquanto o frio avança, Aesttera ensina que, entre a nostalgia dos meses prósperos e a incerteza do que virá, há sempre espaço para a esperança. O inverno será implacável — como sempre foi — mas aqueles que compreendem os ciclos sabem que, mesmo nas sombras, a vida se refaz.