— Ahm… desculpe-me, caríssimo humano desconhecido… — proferiu uma voz fraca, vinda de dentro dos arbustos de folhagem escura, próximo ao colossal castelo ancestral. Você olhou atentamente em direção ao som sussurrante e viu uma criatura pequena, de grandes olhos negros e pele escarlate; assemelhava-se a um humano, porém, era diminuta e esguia, envolta em um manto negro. Suas orelhas lembravam as de um felino, e seus pés eram desproporcionais. Embora a criatura tivesse um semblante diabólico, seus grandes olhos hipnotizavam, atenuando qualquer receio.
— Antes de atravessares os terríficos umbrais deste lugar, há algo que precisas saber. — Ela murmurou. Intrigado, você se abaixou para ouvi-la melhor. Ela se aproximou de seu ouvido, prestes a revelar-lhe um segredo. “A tua mente e alma,” ela iniciou, “conduzirão a experiência que terás neste lugar.” Em seguida, uma risada delgada e aguda escapou de sua boca, expondo ínfimos dentes. “Estarás amaldiçoado ou repousarás sob a benção eterna?” — indagou, sem esperar resposta, antes de desaparecer em direção à densa floresta.
Um ser de mente perturbada, refém da inconsciência, certamente se preocuparia ou sentiria um frio na espinha, mas… não é o seu caso. Posso ver seu sorriso daqui… Este é o seu lar, não é? Sua alma sombria anseia pela maldição do abismo. Ah… sim… Eu sinto sua energia obscura… venha, adentre os umbrais funestos e verta um pouco de seu sangue para saudar os residentes.
Instigado pelas entranhas fúnebres do Castelo, você toca a aldrava dourada e, antes mesmo de emitir um som para anunciar sua chegada, os umbrais rangem, abrindo-se lentamente e revelando, aos seus olhos profundos, a escuridão que acalenta seu coração sombrio. Você avança para o antro do breu, e o silêncio é um cântico aos seus ouvidos. Quando, no entanto, uma silhueta se forma à frente, próxima à lareira crepitante, o silêncio se desfaz com o abrupto fechar das portas de entrada. A escuridão se intensifica, e as luzes tremulam nos poucos castiçais visíveis. A silhueta se move, e você a enxerga. É uma mulher. É a anfitriã.
— Boas-vindas! Eu sou Olga Nivïttz, e este é o lar daqueles cujo sangue precisa ser derramado em nome da obscura Escrita. Tu és, contudo, um espectador, criado por alguém que, como eu, possui o poder do sangue. Tu, portanto, poderás conhecer cada um de nossos residentes, como um espírito que vaga pelos claustros do Castelo, observando e compreendendo cada detalhe das vidas que aqui jazem. Eu te vejo agora, mas não por muito tempo. Somos de universos distintos e não podemos coexistir, porém, nunca me esquecerei de teu semblante e espero que tu nunca te esqueças de cada um que cruzar o teu caminho neste terrífico lugar.
Você ouve, com clareza, a voz melódica e intensa de Olga, mas não consegue comunicar-se com ela. A compreensão sobre os universos distintos começa a fazer sentido, e tudo o que você deseja é mais conhecimento sobre tal arcano recôndito. Quantas histórias sombrias emergirão deste lugar?
— Ouça-me! — Ela prossegue. — Eu criei este lugar e, com efeito, lido com as consequências disso. Aqui não há tempo ou espaço; tudo é fruto de uma interface manipulada por mim, graças ao meu sangue. Por isso, a tua realidade pôde cruzar-se com esta. Não sei de onde vens, mas sei que deves ter cautela. — Olga aproxima-se de seu corpo estático e, com movimentos sutis e elegantes, lhe sorri com sinceridade. Uma segunda silhueta suaviza os fracos lumes persistentes. — Este é Drácula. Conde Drácula. Ele te guiará pelos aposentos enquanto tua personificação se mantém. — Um homem esguio, de nariz aquilino e aspecto primoroso, aproxima-se de você. — Eu o criei a partir de uma história que li há muitos anos e, desde então, ele se tornou meu conselheiro e aquele que me representa na maior parte do tempo. Não, não sou um deus criador. Drácula foi personificado e recriado com base no que compreendi dessa antiga história, no que imaginei; não foi uma tarefa simples, de fato, mas o Ente que conduz minha existência possui a perfeição necessária para fazer de mim sua mais digna discípula. Este Ente, o único, a consciência etérea, ensina-me a arte da Magia de Sangue, e com ela tudo pode ter vida… seja qual for o tipo de vida. — Drácula lhe cumprimenta com uma reverência discreta. — Agora que sabes uma pequena parte desse todo profundo, segue Drácula e contempla o interior lúgubre do Castelo. — Olga lhe sorri mais uma vez. — Foi um prazer conhecer-te. — Ela murmura ao vê-lo sair da sala ao lado do Conde.
Interessante… não acha? Como pode a história de Bram Stoker estar vinculada a esta realidade sombria e singular? Isso atiça a sua curiosidade, eu sei. Então é chegado o momento de se deixar absorver pelas trevas deste fascinante recinto e permitir que o mistério lhe sussurre o insondável.
Autora: Sara Melissa de Azevedo